O general Pazuello assumiu o ministério da Saúde com 15 mil mortos pela pandemia e deixou o cargo, dez meses depois, com mais de 300 mil cadáveres nas costas. Pazuello não tinha qualquer credencial para o posto e ainda exibiu subserviência degradante ao genocida. “Um manda e o outro obedece” é sua frase que ficará para a História.
O desastre Pazuello contamina a imagem do Exército e a dos militares que decidiram trilhar o caminho de volta para a política, da qual haviam se afastado (ou pareciam ter se afastado) desde que o general Figueiredo deixara o palácio do Planalto pela porta dos fundos, em 1985, pedindo: “Me esqueçam”. Por que voltaram ?
Pistas podem ser encontradas na análise feita pelo coronel da reserva Marcelo Pimentel em artigo para o livro “Os militares e a crise brasileira” (organizado por João Roberto Martins Filho) e também em alentada entrevista para o podcast Roteirices, de Carlos Alberto Junior. Pimentel é um crítico da participação política dos fardados, que considera um risco à consolidação do estado democrático de direito. Identifica na atuação deles o que chama de “Partido Militar”, que cultiva autoimagem “salvacionista” e tem fundo ideológico antiesquerda.
O “Partido Militar” tem pauta corporativa (bem sucedida em questões previdenciárias e orçamentárias), ocupou espaço de forma “massiva” em ministérios, estatais, autarquias e agências reguladoras; e tem base militante bastante ativa em redes sociais, onde se conecta com o eleitorado civil. São comportamentos, na visão do analista, de um partido político, com um projeto que iria além de Bolsonaro e que só pode ser contido se as forças armadas entenderem que seu lugar é na “retaguarda” do cenário interno, dentro da “estrita constitucionalidade”.
Para Pimentel, o envolvimento da caserna na política pode gerar efeito nocivo de longo prazo sobre a jovem oficialidade, polícias militares e órgãos de segurança pública. A pergunta que ele deixa é: onde estarão os tenentes de 2020 em 2050? Nos quartéis ou nos ministérios?
(publicado originalmente na Folha de São Paulo em 27/03/2021)
0 comentários