Cristina
Serra
jornalista &
escritora.

Cristina
Serra
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ago 6, 2020 | Meio Ambiente

Desmonte ambiental

O governo implantou uma profunda mudança administrativa na estrutura do ICMBio, o órgão responsável pelas unidades de conservação no Brasil.

A lorota é a mesma de sempre: tornar a gestão mais enxuta e economizar recursos. Mas o governo não se dá ao trabalho de explicar em que critérios se baseou nem fornece os números que justifiquem a ‘eficiência’ das mudanças.

Dezenas de funcionários de carreira do órgão ficaram sabendo pelo Diário Oficial de suas exonerações.

Unidades de conservação estão sendo agrupadas em ‘núcleos’ sem qualquer critério técnico. Por exemplo, no Rio de Janeiro estão no mesmo ‘núcleo’ uma reserva marinha em Arraial do Cabo e a Reserva Biológica de Poço das Antas, uma das áreas onde vive o mico-leão-dourado.

Na Amazônia, quatro unidades de conservação foram agrupadas no mesmo ‘núcleo’, formando uma área de quatro milhões de hectares, sob uma única chefia.

Além disso, 22 bases avançadas de unidades de conservação foram fechadas.

Se hoje já é difícil fiscalizar, imagine com a retirada de servidores treinados há décadas no trabalho de campo e com chefias centralizadas, distantes da linha de frente onde os conflitos explodem todos os dias.

Essa mudança de ‘gestão’ nada mais é que a senha para um ‘liberou geral” para desmatadores, grileiros, invasores, caçadores e outros agentes da devastação ambiental.

É o governo dizendo: “invadam, que eu garanto”.

Enquanto isso, a Amazônia bate recordes de desmatamento e queimadas.

O Brasil poderia ser uma potência ambiental. Em matéria de recursos naturais, colecionamos superlativos: temos a maior floresta tropical, o maior rio e a maior planície alagável do mundo, o Pantanal (também em chamas). Um dos maiores territórios marítimos do planeta, a pouco conhecida Amazônia Azul, também está aqui. Nosso tesouro de biodiversidade é dos mais ricos. São nossos também um bioma que só existe aqui - a Caatinga - e a segunda maior extensão de manguezais (atrás apenas da Indonésia) . Mas o Brasil escolheu ser um pária ambiental ao votar para presidente em alguém que, não satisfeito em ser um genocida, pode ser também qualificado como um ecocida.

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