Nesta semana, tive a honra de participar, como convidada, do 1o. Congresso dos Jornalistas de Roraima, um feito de grande relevância no momento atual, ainda mais quando se considera o contexto de atuação desses profissionais em um estado majoritariamente bolsonarista. O congresso aprovou um manifesto de compromisso com a democracia, que deveria inspirar jornalistas de todo o Brasil, e que reproduzo a seguir.
CARTA DOS JORNALISTAS DE RORAIMA
O cenário atual no Brasil tem demonstrado que o jornalismo profissional é um dos principais antídotos à propagação de falsas notícias e desinformação. Mesmo sendo tão necessário, nos últimos anos o trabalho jornalístico passou a ser duramente atacado. De forma recorrente, profissionais em pleno exercício passaram a ser alvo de intimidação, violência moral, psicológica e física.
Nós, jornalistas do Estado de Roraima, reunidos neste 1° Congresso, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas de Roraima (SINJOPER), histórico da categoria, viemos por meio desta carta estabelecer princípios e valores que devem nortear a conduta dos profissionais da comunicação e do jornalismo roraimense.
Como jornalistas, jamais devemos compactuar com movimentos antidemocráticos, que desrespeitam a legislação brasileira, sendo contrários a toda produção e divulgação de notícias falsas. Devemos defender uma sociedade mais justa e igualitária, em respeito à Constituição Federal, e os valores democráticos, onde há o funcionamento pleno dos três poderes constituídos, pautas permanentes, que não podem ser esquecidas nas redações jornalísticas e empresas de comunicação, sejam elas públicas ou privadas.
Como porta-vozes de grupos e povos que não têm acesso a direitos fundamentais básicos, entre eles, educação, saúde, segurança e lazer, manteremos o debate e o respeito aos direitos humanos, como forma de combater condutas criminosas de aporofobia e xenofobia.
O respeito à ciência, à pesquisa, às universidades e instituições públicas que atuam na produção do conhecimento científico é valor inegociável de todo jornalista presente neste Congresso.
No extremo Norte do Brasil, é compromisso e dever de todo jornalista profissional, a defesa e proteção da Amazônia, do meio ambiente, dos rios, do solo, da vegetação, das comunidades indígenas e das comunidades ribeirinhas.
Como profissionais à serviço da democracia, respeitamos os direitos da comunidade LGBTQIA+, sendo fomentadores da produção de conteúdo com linguagem adequada e não violenta, repudiando qualquer tipo de discriminação e violência.
Os jornalistas de Roraima compreendem que a liberdade de crenças é um direito de todo cidadão, devendo ser respeitada e incentivada a tolerância no exercício profissional, além da defesa de um Estado laico, sem predileção por uma única prática religiosa.
Somos totalmente contrários a qualquer forma de discriminação contra negros e indígenas, assim como todo discurso de ódio e manifestações de apologia ao nazismo, nos comprometendo a promover o debate e conteúdo que envolva a dignidade humana.
A grande participação de mulheres nas redações em Roraima é uma realidade, devendo ser respeitada e valorizada, sem a prática de assédio moral e sexual. Empresas e empregadores precisam discutir e implementar, junto às entidades sindicais, políticas de valorização.
É contínua a nossa luta por um piso salarial digno e por melhores condições de trabalho nas empresas de comunicação. Qualquer prática de assédio no ambiente de trabalho ou no exercício profissional dever ser denunciada e devidamente apurada.
Não iremos nos calar diante de pessoas e grupos que atuam em desfavor da vida e da liberdade. O jornalismo local é a principal arma que os jornalistas roraimenses têm para promover a igualdade, a equidade e a justiça, sendo a verdade e a democracia nossos pilares, hoje e sempre.
Boa Vista, 15 de setembro de 2022.
I Congresso de Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima - Sindicato dos Jornalistas do Estado de Roraima - SINJOPER
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