Este 25 de maio assinala os trinta anos da homologação da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Sob forte pressão internacional e às vésperas da realização da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, a Eco-92, no Rio de Janeiro, o então presidente Collor garantiu o território aos yanomamis, acossados por uma “corrida do ouro”, nos anos 1980, que quase os levou ao extermínio.
A data deveria ser motivo de comemoração porque foi também um marco na mudança da relação do Estado brasileiro com os povos indígenas, a partir da Constituição de 1988. Mas não há o que celebrar diante da violência que a etnia volta a enfrentar, em inédita intensidade.
Operação da Polícia Federal revelou um modus operandi que poderia ser definido como miliciano-empresarial. Como se sabe, as milícias agem por dentro do aparelho de Estado, com conexões políticas que asseguram a impunidade das organizações criminosas.
Um dos investigados pela PF é o empresário Rodrigo Martins de Mello, suspeito de comandar a operação logística com aeronaves que levam para os garimpos alimentos, combustível e máquinas. Mello é pré-candidato a deputado federal pelo PL, partido de Bolsonaro.
Também os mundurucus, caiapós e xipayas, no Pará, e as etnias da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, tiveram seus territórios invadidos recentemente. É uma guerra com várias frentes de ataque. Garimpeiros e seus financiadores são exércitos invasores. Corroem as comunidades, promovem conflitos, levam drogas, violência sexual, poluição da terra e dos rios, doenças e morte.
O presidente, e seu ódio aos indígenas, não carrega essa responsabilidade sozinho. Governos e forças políticas locais, por ação ou omissão, favorecem os invasores. Uma pauta hostil no Congresso e a morosidade do STF em decidir sobre o “marco temporal” também. “O Brazil tá matando o Brasil”. O verso de Aldir Blanc e Maurício Tapajós em “Querelas do Brasil” é de dolorosa atualidade.
(publicado originalmente na Folha de São Paulo em 23/05/2022)
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