Cristina
Serra
jornalista &
escritora.

Cristina
Serra
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ago 14, 2021 | Meio Ambiente

O planeta dos extremos

O Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU (IPCC) reforçou de modo contundente os alertas que vem fazendo sobre o efeito das atividades humanas no desequilíbrio climático. O novo estudo é um apelo à ação antes que as oportunidades de evitar a catástrofe sejam desperdiçadas.

A omissão nos custará caro. Vamos viver (?) no planeta dos extremos: aumentos de temperatura, ondas de calor, tempestades, enchentes. Aquecimento dos oceanos, derretimento das geleiras, elevação do nível do mar. Secas, incêndios, perda de colheitas. Fome, guerras pela água, refugiados do clima. Um mundo hostil e inimigo da vida humana.

Como sempre, os pobres e as nações menos desenvolvidas sofrerão os impactos antes e com mais intensidade. Mas a conta chegará também para os ricos. O planeta é um só.

Assento nas espaçonaves de Jeff Bezos ou de Richard Branson? Colônias na lua? Vã ilusão. A vida é aqui e agora.

Sem os governos mais influentes e as empresas mais poderosas nenhum acordo para redução das emissões de carbono vai se tornar realidade. É preciso mudar a chave da economia global, baseada na queima de combustíveis fósseis. Mudanças de tal envergadura requerem visão de longo prazo e compromisso humanitário. Governos e corporações estarão à altura?

E onde entramos nós, brasileiros, em processo de involução civilizatória? Há décadas, o Brasil vinha articulando esforços colaborativos para superar a falsa dicotomia entre desenvolvimento e proteção ambiental. Marco importante foi a Política Nacional do Meio Ambiente (que completa 40 anos), comando legal fortalecido pela Constituição de 1988.

Rio 92, Rio+20 e todas as outras conferências do clima em que o Brasil foi voz ativa firmaram nossas obrigações perante o mundo. O atual governo representa uma ruptura nessa rota.

Mas voltaremos à ela porque o Brasil é maior e melhor. O momento histórico nos cobra duas imensas responsabilidades: proteger nosso futuro como espécie e lutar pela nossa democracia.

(publicado originalmente na Folha de São Paulo em 14/08/2021)

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