De braços dados com o ancião Raoni, acompanhado pelo menino Francisco e demais representantes do povo, Lula subiu a rampa e recebeu a faixa das mãos de Aline, carregando sobre os ombros os sonhos e esperanças de milhões de brasileiros, até dos que não votaram nele (embora estes não o percebam).
O trajeto em carro aberto ao lado de Alckmin, o adversário de 16 anos atrás, transmitiu imagem poderosa de civilidade e compromisso com o país. Não pude deixar de associá-los à frente ampla que conduziu o Brasil de volta à luz, na campanha das Diretas. Naquele momento, Tancredo encarnou a travessia. Em 2022, este papel coube à Lula. “Democracia para sempre!”.
Lula enunciou de forma límpida sua (nossa) missão mais urgente, o combate às desigualdades, o único caminho para que o Brasil seja capaz de dar o salto definitivo do século 19 para o 21. Mais do que uma promessa, o presidente fez um apelo. Lula sabe que pode muito, mas não pode tudo.
O Brasil, suas instituições e muitas das pessoas que as representam são as mesmas que validaram a tragédia de 2016 que nos trouxe até aqui, Judiciário e mídia incluídos (hoje, com algumas correções de rota). O novo governo terá que lidar com Arthur Lira, sempre armado para a próxima emboscada. Rodrigo Pacheco insinuou o perdão do esquecimento ao genocida que deixou o país em fuga de rato amedrontado.
Para atender às imposições e disfunções da tal governabilidade, Lula cedeu postos estratégicos na Esplanada, com algumas nomeações de alto risco e potencial de conflitos. Tais escolhas, contudo, não chegam a tirar o brilho de um ministério reluzente em qualificação e engajamento com a reparação de dívidas históricas, respeito aos direitos humanos e proteção aos nossos recursos naturais.
A rota de navegação está traçada. A volta de Lula é um triunfo do povo brasileiro. A festa foi linda, emocionante, inesquecível. Como disse Gonçalves Dias no poema I-Juca Pirama: “Meninos, eu vi!”.
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