Cristina
Serra
jornalista &
escritora.

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set 13, 2022 | Meio Ambiente

Presença de Marina

“Perco o pescoço, mas não perco o juízo”. Marina Silva era ministra do Meio Ambiente de Lula, em 2006, quando respondeu com essa frase às críticas do Palácio do Planalto de que ela conduzia uma gestão “fundamentalista” no ministério, que atrapalhava planos da dita ala desenvolvimentista do governo. Foi o começo de uma sequência de atritos que levariam à sua saída da Esplanada e, mais tarde, do PT.

Desde então, Marina teve uma trajetória com altos e baixos. Mas ela mostra que tem a cabeça no lugar ao reaproximar-se de Lula na conjuntura excepcional que o Brasil atravessa, com inédita violência político-eleitoral: dois assassinatos de petistas, intimidações a candidatos nas ruas, insistência de militares em se meter na apuração e ameaças de vencer a eleição “na bala”, como disse um deputado bolsonarista, no Ceará.

Marina tem consciência das dificuldades para implantar a agenda ambiental numa aliança tão ampla e cheia de contradições como a de Lula. Tanto que referiu-se a um eventual terceiro mandato do ex-presidente como um governo de “transição”. Mas ela sabe também que seu prestígio internacional e legitimidade no setor a credenciam como uma voz proeminente em qualquer discussão sobre clima e meio ambiente.

Lula tem muito a ganhar com a presença de Marina em sua órbita. Ela pode estabelecer pontes com grupos sociais decisivos, como os evangélicos e uma parcela verde da classe média distante do PT, no esforço para resolver a eleição no primeiro turno. Além dos ganhos eleitorais, o reencontro dos dois é um símbolo poderoso de um país que tenta reconquistar a civilidade perdida.

O exemplo de ambos deveria inspirar outros movimentos de reconciliação. O alvo natural de um gesto como esse deveria ser Ciro Gomes. O candidato do PDT, no entanto, arrisca um melancólico fim de carreira, arrastando também o partido criado por Leonel Brizola. Entre seus correligionários, já há deslocamentos na direção do voto útil em Lula.

(publicado originalmente na Folha de S. Paulo em 13/09/2022)

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