O Brasil solar triunfou sobre a escuridão nesta semana. A mobilização de artistas e produtores culturais conseguiu a derrubada dos vetos presidenciais às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Juntas, destinam quase R$ 7 bilhões a iniciativas culturais, com repasse de recursos a estados e municípios.
Todos os países que se levam a sério valorizam sua cultura e têm mecanismos de fomento à produção artística e à formação de plateias, não só porque arte é expressão do caráter nacional, mas por ser uma atividade com fluxos econômicos multiplicadores.
No contexto atual, derrubar os vetos é vitória para aplaudir de pé. É demonstração de resistência, força e vitalidade da cultura e dos nossos artistas. Pensei nisso enquanto assistia ao show “Senhora das Canções”, da cantora Mônica Salmaso e dos músicos da Escola Portátil de Música/Casa do Choro, do Rio de Janeiro, os excepcionais Luciana Rabello (cavaquinho), Paulo Aragão e Maurício Carrilho (violão), Aquiles Moraes (sopro), Marcus Thadeu e Magno Júlio (percussão).
A apresentação, em homenagem a Elizeth Cardoso, a “Divina”, estava programada para 2020, ano do centenário da cantora, uma das matrizes da musicalidade brasileira. Veio a pandemia e só recentemente a estreia foi possível. Senhoras e senhores, que espetáculo!
Pesquisadora do cancioneiro popular e conhecida nas redes sociais com a série de vídeos “Ô de casas” (gravados durante a pandemia), Mônica Salmaso mergulha no repertório de Elizeth para trazer uma caixinha de joias musicais ou, como ela define, “catedrais de notas musicais”. Tem Cartola, Tom, Vinicius, Paulo Sérgio Pinheiro, Paulinho da Viola…
O show vai muito além da merecida reverência a Elizeth. Evoca a originalidade musical que nasceu nos subúrbios, nos morros, nas serestas em noites enluaradas. Sambas, choros, canções de amor em que nos reconhecemos na nossa brasilidade. Tudo engrandecido na voz sublime de Mônica Salmaso. Esse Brasil haverá de triunfar, sempre.
(publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 09/07/2022)
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